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Foto retirada da internet |
Clarice Lispector, escritora e jornalista, nasceu em 10 de dezembro de 1925, mudando ainda pequena para o Brasil. Naturalizada brasileira, tornou-se uma das maiores escritoras do país, sendo reconhecida também com uma das mais importantes escritoras do século. Fez parte da terceira fase dos poetas modernistas brasileiros, tendo na novela literária “A hora da estrela”, seu último livro publicado em vida, um dos seus maiores sucessos. Além dessa, escreveu vários romances de sucesso, a exemplo, “Perto do Coração Selvagem (1943, livro de estreia), “A paixão segundo G.H” (1964), “Um sopro de vida” (1978) entre outros. Muito versátil se destacou também na escrita de contos, crônicas e textos voltados para a literatura infanto-juvenil. Clarice morreu em 09 de dezembro de 1977 no Rio de janeiro, um dia antes do seu aniversário de 57 anos, deixando um legado literário consagrado e aclamado até os dias atuais.
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Capa do Livro - Editora Rocco
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Aqui, o biografo oficial da autora, Benjamin Moser, reúne todos os contos da escritora em um único livro. Laços de família (1960), A legião Estrangeira (1964), Felicidade Clandestina (1971), Onde estivestes de noite? (1974), A Via Crucis do Corpo (1974), O Ovo e a Galinha (1977), A Bela e a fera (1979) e mais 78 contos compõem essa coletânea. O que chama a atenção nessa obra é o trabalho minucioso de pesquisa por parte do biografo, pois alguns desses contos foram escritos para os jornais da época e nunca lançados em livros. Outro fato importante é que os contos não estão apresentados em ordem cronológica o que deixa a leitura mais rica e interessante.
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Capa do Livro - Editora Rocco |
É um livro prazeroso de se ter e ler. E se tratando de Clarice Lispector ficamos muito mais empolgados com a leitura. Cabe ressaltar também que a forma inovadora de escrita que permeou a sua trajetória literária ficam evidenciados em cada um dos contos. Os traços intimistas, a supervalorização dos sentimentos e das sensações, remetendo ao ser humano dentro da sua intimidade, trazem os mais diversos questionamentos sobre nós e sobre a condição humana. Finalizando, deixarei um dos trechos do meu conto favorito da autora e que vai corroborar com as afirmações citadas acima.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
(Conto: Felicidade Clandestina, p.395 e 396).
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