[Resenha] A Resposta - Kathryn Stockett
Créditos da foto: Kem Lee |
Kathryn Stokett (49 anos) Nasceu em Jackson, Mississípi – EUA no ano de 1969. É uma escritora norte-americana que tem como romance de estreia o Best-seller “A Resposta” (título em inglês: The Help). O livro foi escrito em homenagem, mesmo que tardia como ela mesmo diz ao final do livro, a sua empregada, Demetrie, que cuidou dela e dos irmãos durante a infância, tendo-a muitas vezes, talvez por ausência dos pais, o seu porto seguro. O livro demorou cinco anos para ser escrito e foi recusado diversas vezes até ser publicado e para a grande surpresa da autora tornou-se um sucesso de vendas. Publicado em mais de 30 países e ficando durante um ano na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos, em 2012 ganhou uma adaptação para o cinema com o título “Histórias cruzadas” roteiro escrito pelo amigo de infância da Kathryn, Tate Taylor, concorrendo também ao Oscar no mesmo ano, sendo premiado como melhor atriz coadjuvante pela atuação de Octavia Spencer.
Capa do livro - Editora Bertrand Brasil |
“Pego uma xícara de café, começo a secar ela com muita força com o meu pano de prato.- Você, às vezes, deseja que seja possível... mudar as coisas? Pergunta ela (Skeeter).Eu não consigo me segurar. Olho pra cara dela. Porque essa é uma das perguntas mais idiotas que eu já ouvi na vida. Ela faz uma cara confusa, desgostosa, como quem colocou sal no café em vez de açúcar. Volto para a minha louça suja, pra ela não ver que tou revirando os olhos.” Aibileen (p.20).
O livro apresenta como protagonistas três mulheres muito diferentes entre si. A Jovem Skeeter, branca, rica, que após se formar na faculdade de jornalismo retorna a Jackson, sua cidade natal, sonhando em se tornar uma grande escritora, mas sofre com as pressões impostas pela mãe para que se case e constitua família. Temos também a Abileen, mulher negra, mais velha, muito sabia e que assim como as mulheres negras da época, se tornou empregada doméstica e serve as mulheres brancas da alta sociedade, tendo como preferência cuidar de bebês. E por fim, Minny, também negra, casada, mãe de cinco filhos e dona da personalidade mais explosiva dentre as três. Dessa união improvável, surge uma amizade forte que resulta em ações que abalam a então pacata cidade de Jackson. Em oposição a elas, temos Hilly Holbrook, antagonista da história. Mulher branca, casada e da alta sociedade que por possuir uma posição privilegiada na comunidade local, se utiliza disso para manipular e influenciar a todos que com ela convivem.
“...E não tou dizendo que as reuniões com a dona Skeeter são engraçadas. Toda vez que a gente se reúne, eu reclamo. Resmungo. Fico irritada e tenho um ataque. Mas o negócio é o seguinte: eu gosto de contar as minhas histórias. Sinto que tou fazendo alguma coisa a respeito. Quando vou embora, o concreto no meu peito se afrouxou, derreteu, então consigo respirar por alguns dias.” Minny (p.286).
O enredo começa a se desenrolar quando Hilly quer lançar um projeto de lei polêmico, que prevê a construção de banheiros separados nas casas das patroas para as “pessoas de cor”, alegando que as mesmas possuíam doenças “diferentes” e sem essa separação as famílias para quem as empregadas domésticas trabalhavam corriam risco de serem contaminadas também. Concomitante a isso, Minny ao ser demitida pela socialite, resolve dar o troco fazendo a coisa “terrível” deixando-a mais furiosa ainda. Hilly por sua vez se vinga da pior forma, espalhando para a cidade que o real de motivo da demissão de Minny, foi por pegá-la roubando a sua prataria, o que acaba com todas as chances da moça de conseguir um novo emprego. E é nesse cenário de injustiças causadas principalmente pela “diferença” de raças que Skeeter resolve, por meio de uma ideia muito simples, porém ousada e perigosa, questionar e denunciar o contexto em que vivem.
“Vozes altas se ouvem na rua, e nossos olhos se lançam na direção da janela. Ficamos quietas, imóveis. O que aconteceria se um branco me descobrisse ali num sábado a noite, falando com Aibileen, vestida com suas roupas normais? Será que chamariam a polícia, para relatar uma reunião suspeita? Subitamente, tenho certeza de que seria isso que aconteceria. Seríamos presas, porque é isso que eles fazem. Eles nos acusariam de violação integracionista...” Skeeter (p.191).
Agora vamos aos fatos. Os temas retratados no livro perpassam por várias esferas sociais, nós temos desde o racismo, até a violência doméstica. É uma obra de ficção que utiliza fatos históricos para contar uma história, mas, e isso precisa ser pontuado, é uma escritora branca falando na voz de pessoas negras, do mesmo jeito que deu certo, poderia ter sido desastroso trazendo consequências negativas para a carreira de escritora da Kathryn Stockett, eu penso que talvez, esse tenha sido o motivo da obra ter sido rejeitada diversas vezes antes de ser publicada.
Continuando, no texto, o racismo aparece a todo momento, seja nas atitudes das pessoas brancas ou no relato das mulheres negras. Creio que essa repetição se apresenta como forma a nos fazer refletir, apesar da história se passar na década de 1960. Nos últimos anos, acompanhamos pela mídia inúmeros casos de racismo, reacendendo ainda mais forte a necessidade de debater sobre o assunto e isso vem como ponto muito positivo na obra. Outro tema interessante, e fica evidenciado nas figuras de Skeeter e Hilly, é o papel da mulher na sociedade, que aparece em total desconstrução na postura da protagonista, que ao contrario das amigas, preferiu ir à faculdade ao invés de casar-se e cuidar do lar.
Sensacional ❤️
ResponderExcluirObrigado!! :)
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