[Resenha] O Diário de Anne Frank - Anne Frank
Anne Frank - Foto retirada da internet |
Annelies Marie Frank nascida em 12 de junho de 1929, Frankfurt am Main, Alemanha. Anne Frank como ficou conhecida, era uma adolescente alemã de origem judaica e uma das vítimas do Holocausto. Ela ficou famosa postumamente, por escrever um diário narrando os dias passados no confinamento junto com a sua família em Amsterdã, fugindo da perseguição alemã aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Anne e a sua irmã Margot Frank provavelmente morreram de tifo em março de 1945, após o anexo em que viviam ser descoberto e os seus moradores enviados aos campos de concentração.
...Vivo numa época louca e em circunstâncias loucas. Que sorte poder escrever o que penso e sinto. Se não fosse isto, ficava sufocada. (p. 155).
Capa do livro - Editora Geek |
A sua obra “O diário de Anne Frank” ganhou grande destaque mundial por narrar com detalhes os dias em que passaram confinados em um anexo secreto em um dos prédios comerciais que o seu pai possuía junto com mais sete outras pessoas. O prédio localizado no canal Prinsengrcht, nº263 em Amsterdã, hoje funciona um museu em homenagem à garota. Lá a sua família e outros amigos também judeus, ficaram escondidos durante dois anos e um mês e por fim acabaram sendo descobertos e enviados para os campos de concentração nazistas. De todos que se esconderam no anexo, apenas o pai de Anne, Otto Frank sobreviveu ao Holocausto, morreu em 1980 no Canadá. Miep e Elli, ajudantes da família no período de reclusão, encontraram o diário, guardaram, depois o entregaram a Otto que o publicou e foi também o principal responsável por divulga-lo. O diário foi traduzido para mais de 70 línguas e publicado em mais de 60 países e ainda hoje é um dos livros mais lidos no mundo.
“O diário de Anne Frank" retrata as dificuldades encontradas pelos judeus para tentar fugir dos nazistas no período da Segunda Guerra Mundial, são contadas pelo olhar de uma adolescente de 13 – 14 anos de forma muito pessoal. É esse transcrever da realidade que faz com que essa obra seja tão impactante e nesse sentido, ela possui vários pontos a ser destacados.
... Por tudo isto é que eu escrevo um diário. É para eu fazer de conta que tenho uma grande amiga. A este diário que vai ser a minha grande amiga, vou dar o nome de Kitty. (p. 19).
Primeiro, vamos falar sobre o gênero textual utilizado, o “diário”. As narrações do cotidiano, embora algumas desnecessárias, são muito precisas e nos faz imaginar com muita clareza os as ações dos moradores e os cômodos que compunham o esconderijo. E como as coisas mais simples, naquela situação poderiam se tornar excelentes presentes e grandes demonstrações de carinho. Dito isso, o gênero textual diário, por se tratar de uma conversa íntima entre o escritor e o texto, este ajuda com as suas características a trazer leveza no texto, embora a escrita esteja carregada de figuras de linguagem, isso não atrapalha o andamento da leitura, nem o entendimento da obra. Dessa forma, ela se encaixa na categoria da literatura infanto-juvenil, mesmo se passando em um contexto histórico tão conturbado.
Segundo, o diário nos mostra os acontecimentos históricos da Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, período em que eles se mantiveram no esconderijo. As informações conseguidas pelos “clandestinos”, vinham principalmente do rádio e dos jornais impressos trazidos por aqueles que os ajudavam. Ele demonstra também uma Anne Frank jovem e que apesar da sua pouca idade, encontrou uma maneira criativa de lidar com o confinamento... Escrevendo... e com isso ela consegue fazer apontamentos importantes e que nos ajudam a compreender o que se passava naquele momento no mundo.
Hoje só posso dar notícias tristes e deprimentes. Os nossos amigos e conhecidos judeus são deportados em massa. A Gestapo trata-os sem a menor consideração. Em vagões de gado leva-os para Westebork... Pessoas dormem em barracas, homens, mulheres e crianças, todos misturados. Não podem fugir: quase todos podem se identificar pelas cabeças raspadas e pela aparência judia. (p. 50).
Anne Frank - Foto retirada da Internet |
Terceiro, ele também revela uma adolescente com a sua personalidade em formação, e todos os conflitos que isso envolve. A relação difícil com a mãe, a descoberta dos sentimentos, a paixão por Peter, outro jovem que estava no esconderijo, a sexualidade desabrochando, tudo isso se passa enquanto ela está morando no anexo. Outra coisa que chama atenção na sua personalidade, é a capacidade analítica que a autora possui, fazendo algumas vezes análises profundas e críticas muito bem justificadas pelos seus argumentos. No início ela se mostra uma menina mimada e parece não entender o que está acontecendo à sua volta, mas com o avançar dos escritos, percebemos uma garota inteligente e muito observadora que consegue contar com precisão os detalhes da convivência no anexo.
Cabe salientar também, que nesse esconderijo eles passaram dois anos e um mês até serem delatados e descobertos. Falando sobre isso, é importante lembrar que apesar de toda ajuda que obtiveram dos seus amigos/protetores, eles passaram por privações não só da liberdade, mas também de alimento. Interessante também perceber que mesmo escondidos, o ato de estudar teve um papel muito importante, pois, além de mantê-los ativos mentalmente, servia também como distração e passa tempo.
No geral é um livro muito envolvente, vale a pena a leitura. Mesmo narrando alguns fatos históricos tristes e o seu final trágico, ele retrata os aspectos da guerra que acontecia, o que é e como se manifestou o antissemitismo naquele período. É a terceira vez que eu leio esse livro, porém é a primeira vez que eu o leio com o olhar crítico que essa obra requer, acredito também que seja o tipo de livro que todas as pessoas deveriam ler pelo menos uma vez na vida. Finalizo com uma das frases da Anne Frank que mais me marcaram, me chamando a atenção não necessariamente pelo que está escrito e sim pelo que a garota que morreu tão jovem, previu e conseguiu ao ter o seu diário publicado.
“Quero continuar a viver depois da minha morte. E por isso estou tão grata a Deus que me deu a possibilidade de desenvolver o meu espírito e poder escrever para exprimir o que em mim vive.” (p. 171).
Anne Frank - Foto retirada da internet |
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