[Resenha] A casa dos Budas Ditosos - João Ubaldo Ribeiro

Foto retirada do Blog: Estante Virtual
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João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Bahia no dia 23 de janeiro de 1941. Formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia, João Ubaldo Ribeiro como ficou conhecido, nunca seguiu a profissão, se tornou escritor entregando aos seus leitores obras memoráveis como, Sargento Getúlio (1971), Viva o Povo Brasileiro (1984), O sorriso do Lagarto (1989), o Albatroz Azul (2009) e o polêmico “A casa dos budas ditosos (1999). Além de escritor, também se tornou jornalista, cronista e roteirista. Teve obras adaptadas para a TV, para o cinema e para o teatro, foi membro da Academia Brasileira de Letras ocupando a cadeira de nº 34 e em 2008 ganhou o prêmio Camões, um dos maiores prêmios para escritores nacionais. Morreu em 2014 na sua casa no Rio de Janeiro no dia 18 de julho, deixando um grande legado de trabalhos literários.

Capa do livro - Editora Objetiva
“A casa dos budas ditosos” integra a coleção Plenos Pecados da Editora Objetiva. Na ocasião, alguns autores nacionais foram convidados a escrever obras inspiradas nos sete pecados capitais. João Ubaldo Ribeiro, ficou encarregado de escrever sobre a Luxúria. Diante disso, chega às suas mãos algumas fitas k7 gravadas por uma senhora de 68 anos, assinado apenas com as iniciais CLB, nas quais ela basicamente narra as suas aventuras sexuais ao longo da sua vida sem nenhum resquício de culpa. Assim, nos é apresentada uma espécie de autobiografia sexual.

A temática erótica sempre mexe com o nosso imaginário. E é nesse mundo escondido que os nossos desejos mais profundos se afloram, revelando o que está reprimido em nosso interior, uma prova disso é que livros como "Cinquenta tons de Cinza" da autora E.L. James fazem um estrondoso sucesso. Dito isso, “A casa dos budas ditosos” é uma salada mista de fetiches, a narradora consegue nos chocar e nos divertir ao mesmo tempo e na mesma proporção, mostrando que quem tem limite é cartão de crédito, ela não. Ela nos leva a mergulhar um pouco mais fundo no mar da temática erótica, e nos revela um universo inimaginável de prazeres. Ela percorre desde a sua infância até chegar na fase adulta contando, com detalhes, as várias situações sexuais que ocorreram em sua vida. 
Nunca me deixei engabelar por essas baboseiras que nos impingem como fazendo parte da natureza humana. Não se pode estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo, meu Deus, quanta gente morreu e morre todos os dias por causa desse dogma babaca, que é tão arraigado que a pessoa, homem e, principalmente, mulher, que está ou é apaixonada por dois ou três entra em conflitos cavernosíssimos, se remói de culpa, se acha um degenerado, não confessa o que sente nem às paredes, impõe-se falsíssimos dilemas, se tortura, é uma situação infernal e cancerígena, todo mundo lutando estupidamente para ser quixotes e dulcinéas. É o atraso, o atraso! (p.71).
Por outro lado, a decisão de falar sobre o sexo de forma tão aberta, segundo ela é para inspirar outras mulheres a fazerem a mesma coisa, inclusive o livro inicia com as frases “para as mulheres” e “tudo no mundo é secreto”. O livro contém temas que sempre são evitados, tais como, incesto, relações amorosas, sexo em grupo, bissexualidade entre outros, para a mulher que narra tão naturalmente as suas experiências sexuais, o sexo já não é tabu a muito tempo.
Três, três é o número ideal para um grupo, quaisquer que sejam os sexos dos participantes, inclusive misturado. Eu gosto das três formas possíveis: uma mulher e duas mulheres, uma mulher, um homem e outra mulher, uma mulher e dois homens. Na minha experiência, mas enfatizo que só falo por mim, o menos satisfatório é mulher com duas mulheres, e o mais satisfatório — surprise! — é duas mulheres com um homem. O ideal é que todo mundo nesse grupo se transe, mas não é indispensável. (p.54).
Tem uma linguagem muito simples, sem muitos rodeios, ela é muito direta ao dar o seu recado. Enfim, é um livro que eu recomendo, para quem gosta desse tipo de literatura, vai achar incrível as histórias da senhora anônima. Prepare-se para um relato livre de censura, portanto, sugiro que ao começar a lê-lo (caso se interesse), dispa-se de qualquer preconceito existente em você, para não cair no entrave do julgamento e acabar perdendo uma leitura intrigante e também muito divertida, como vocês poderão perceber no trecho abaixo:
— Abra as pernas para mim. Eu abri, ele curvou meus joelhos para cima, afastou minhas coxas ainda mais — ai, que momento lindo! —, encostou a glande bem no lugar certo, agarrou meus ombros com os braços em gancho pelas minhas costas, abriu a boca para me beijar com a língua enroscada na minha e, num movimento único e poderoso, se enfiou em mim. Senti uma dor fina e quase um estalo, cheguei a querer deslizar de costas pelo colchão acima, mas ele somente enfiou-se em mim até o cabo e ficou lá dentro parado, me segurando forte, para só então terminar o beijo, erguer o tronco e começar a me foder, olhando para a minha cara. (...) Já li muitos livros eróticos e pornográficos, a maior parte detestável, já vi tudo, mas nada pode espelhar aquele instante, nada, nada, nada, nada, até hoje me masturbo pensando naquela hora, minha fantasia perfeitamente realizada. (p.38).

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