[Resenha] Quando ela desaparecer - Victor Bonini

Capa do livro - Faro Editorial
O que esperar de “Quando ela desaparecer” do autor Victor Bonini? Sumiço, suspense, assassinato, polícia, detetive particular e reviravoltas incríveis, esses são os ingredientes para uma boa história policial e tudo isso você encontra na obra desse jovem escritor. Em seu terceiro romance policial, Victor Bonini nos entrega uma narrativa rodeada de muitos mistérios; durante a leitura, a pergunta “o que aconteceu com Kika?” fica pairando, feito nuvem tempestuosa em nossas cabeças. 

Vamos aos fatos. Uma jovem de dezesseis anos, apelidada de Kika, desaparece misteriosamente durante uma excursão da escola. A partir daí, tem início uma busca pela garota desaparecida, mobilizando toda a cidade de Guarulhos, SP e os seus moradores, ainda perplexos com a situação. Durante as buscas, coisas do passado da adolescente começam a surgir e a polícia tenta juntar essas pistas para desvendar o seu paradeiro. Esse caso se desenrola durante dois meses, gerando muita angústia para a mãe da menina e sendo noticiado diariamente pela mídia, que juntamente com a sociedade, cobra das autoridades o desfecho do caso, embora, a grande maioria duvide que ela ainda seja encontrada com vida. Em meio a esse cenário, dois crimes brutais acontecem, tendo possível ligação com o acontecimento, recobrindo ainda mais de mistérios o desaparecimento. Assim, uma corrida contra o tempo é iniciada na tentativa de resolver o mais rápido possível o caso. 

Esperar. É a tortura de qualquer parente nessa situação. Muitas vezes, esperam para sempre. Seus amados foram embora e nunca mais voltarão. (p. 10).

Dito isso, o texto tem o formato de livro-reportagem, com uma linguagem leve, objetiva e despretensiosa, que confere à narrativa uma fluidez incrível. O tempo, antes e depois, é utilizado como aliado para relatar os acontecimentos, portanto, não há uma linearidade cronológica. No início, pensei que a história poderia ficar confusa, mas, conforme fui evoluindo no livro, as idas e voltas no tempo, deixaram o texto mais interessante, contribuindo para a melhor compreensão do enredo.



Achei criativo o diferenciar de cores nas páginas. Página bege, relacionada à narração de fatos da história; página cinza, conversa posterior que o detetive Conrado Bardelli teve com a mãe de Kika; página preta, caso acontecido com Kika dois anos antes do seu desaparecimento. Essas, parágrafos alinhados, remetendo a textos jornalísticos na sua forma costumeiramente publicados; aquelas, falta de alinhamento com as margens, demonstrando tom mais informal; as outras, também sem alinhamento, remetendo às lembranças. Interessante essas diferenciações, elas transportam o leitor de um ambiente para outro, sem perdas no entendimento da trama.

Por falar em Conrado Bardelli, ele é o Hercule Poirot, o Robert Langdon  ou o Sherlock Holmes do Bonini. Personagem fictício, que nos é apresentado como um advogado competente, tranquilo, que pela sua experiência em casos policiais, é convidado para ajudar nas investigações e contribuir para resolver os casos. No caso da Kika, ele tem papel determinante para a sua resolução. 


Se tratando de um livro-reportagem, a forma como os fatos são postos, me lembrou muito “Crônica de uma morte anunciada” (resenha AQUI) de Gabriel García Márquez, principalmente, quando no início do texto, o autor comunica ao seu leitor de forma direta, o desaparecimento da garota, a consequência dessa revelação é, uma retrospectiva para recontar, o mais fielmente possível, os eventos acontecidos que culminaram no sumiço da menina Kika. Outra referência muito nítida, é feita à rainha do crime, Agatha Christie, e isso fica muito evidente nas descrições dos espaços e nas cenas dos crimes. Com essas referências, Bonini assume a personalidade de escritor de romances policiais, criando um jeito próprio de escrever, que abraça o leitor do começo ao fim do livro. 

É interessante observar também, a postura dos personagens que compõem o enredo. Personalidades muito diferentes, e quase todos possuem motivos, e/ou se tornam suspeitos no desaparecimento. Assim, o autor desenrola o seu novelo de lã, conduzindo o leitor por uma teia de intrigas, onde diversas reviravoltas acontecem. Acredito que a experiência do Bonini como repórter, contribuiu imensamente para dar personalidade à sua escrita, pois, ele vai criando as situações e com maestria, vai nos envolvendo, terminando com um final surpreendente. 

A polícia se viu obrigada a dar uma resposta urgente para a sociedade e os meios de comunicação. As pessoas queriam entender como aquela reviravolta tão impressionante havia acontecido. (p. 264).

Enfim, se você, assim como eu, é apaixonado por histórias policiais, tá aí uma indicação excelente. Indico, não só por todas as características elencadas no texto acima, que se trata da minha perspectiva sobre essa narrativa e que não se esgota nesse pequeno texto, mas também, pela competência e escrita desse jovem autor. Esse foi o primeiro livro, escrito pelo Victor Bonini que eu li, virei fã, já adquirir as outras obras, que inclusive já estão na fila para leituras futuras. Por fim, só nos resta questionar se Victor Bonini será o nosso rei do crime?! Se não for, está no caminho certo para se tornar, após a leitura das suas outras publicações, trarei uma resposta mais concreta para vocês.



Sobre o autor:

Foto reprodução: Arquivo pessoal: Instagram

Victor Bonini nasceu em São Paulo, morou em Vinhedo, interior do estado, e voltou à capital aos dezoito anos para cursar jornalismo. Sempre lhe perguntam se, ao longo da vida, havia indícios de que seria um autor de mistério. Aos sete anos, escolheu o filme Pânico como tema da festa de aniversário. Na adolescência, devorou todos os livros policiais e de terror que pôde encontrar. Na universidade, seu elogiado trabalho de conclusão de curso, em parceria com Mariana Janjácomo, foi um livro sobre o caso Pesseghini, apresentando vários aspectos do crime que chocou o país em 2013. O trabalho não foi publicado a pedido da família das vítimas. E aos vinte e dois anos, quando lançou seu primeiro livro, Colega de Quarto, pela Faro Editorial, ele finalmente entendeu que escrever é a forma de dar vazão a debates internos sobre a lógica de crimes e a mente dos psicopatas — pensamentos que o assombram como ideias para a ficção, querendo emergir. Victor passou pelas redações da GloboNews, TV Gazeta e Revista Veja. Atualmente é repórter da TV Globo, em São Paulo. (Texto retirado do livro).

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