[Resenha] Crônica de uma morte anunciada - Gabriel García Márquez
Créditos da foto: Pablo Corral Vegal |
Gabriel García Márquez nasceu em 06 e março de 1928 em uma aldeia chamada Aracataca na Colômbia. Foi escritor, jornalista e editor, considerado por muitos um dos maiores escritores de todos os tempos. Foi admirado e um dos escritores mais traduzidos no mundo. Mestre do realismo mágico latino-americano, venceu diversos prêmios, dentre eles o Nobel de Literatura no ano de 1982 por toda a sua contribuição literária. Suas principais obras são Cem anos de solidão, O amor nos tempos de cólera, Memórias das minhas putas tristes, Ninguém escreve ao coronel e Notícias de um sequestro. Morreu em 17 de abril de 2014 na cidade do México, local onde viveu quase toda a sua vida.
Capa do livro Tradução: Remi Gorga, Filho 50ª Edição |
O livro “Crônica de uma morte anunciada” narra os eventos que antecedem a morte do Santiago Nasar. O jovem Bayardo San Roman um estrangeiro rico e arrogante, vai até a pacata cidade em busca de uma noiva, decerto que encontraria, pois tinha certeza que o seu dinheiro poderia comprar tudo. Ângela Vicário, a mulher escolhida por Bayardo para se casar, é uma jovem bonita, filha de uma família tradicional que se vê forçada a casar com o pretendente rico, ao qual a família fazia muito gosto. Pressionada por ambos os lados, ela aceita o pedido e casa-se em uma festa que “não houve uma só pessoa na cidade, pobre ou rica, que não tivesse participado na festa de maior repercussão que jamais se havia visto no povoado” (p.26). É Depois da festa e do breve casamento entre Byardo San e Ângela Vicário que o Santiago de Nasar é morto pelos gêmeos, irmãos da noiva.
Como assim? É isso mesmo, o livro gira em torno do assassinato do jovem Santiago de Nasar, morte essa que toda a cidade se vê envolvida por saber do fim triste que o rapaz teria, mas sem nenhuma coragem para avisá-lo.
“No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se cedo para esperar o navio em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava um bosque de grandes figueiras onde caía uma chuva branda, e por um instante foi feliz no sonho...” (p.7)
Assim anuncia o narrador ao abrir a história. Portanto, já sabemos o que vai acontecer, mas qual motivo eu teria para continuar? No melhor estilo realismo mágico e seguindo a linha jornalística de reconstituição de fatos, o enigma sobre a morte vai sendo desvendado com a ajuda da recordação dos acontecimentos pelos personagens da história, até o real motivo do assassinato aparecer. A partir daqui os eventos apresentados por um narrador não onisciente começam a se desenrolar.
Os acontecimentos são narrados de forma objetiva sem grandes desvios. Dentro do mundo realístico que o romance assume, o tempo não é linear, dessa maneira, o autor adianta e volta no tempo sem prejudicar o andamento da história, sempre detalhando minuciosamente todos as situações que ocorrem antes do desfecho final.
Outra coisa que deve ser levado em consideração é a postura dos moradores do povoado, que sabendo do que iria acontecer, nada fizeram para alertar ao jovem ou impedir que os irmãos de Ângela, os gêmeos Pedro e Paulo Vicário matassem o homem.
“O único lugar aberto na praça era a leiteria ao lado da igreja, onde estavam os dois homens que esperavam Santiago Nasar para matá-lo... a dona do negócio foi a primeira que o viu no resplendor da alva, e teve a impressão de que estava vestido de alumínio. ‘Já parecia um fantasma’..." (p.21).
O não agir dos personagens para evitar a tragédia, deixa um resquício de culpa no ar que aparece o tempo todo na narrativa. Essa culpa fica evidenciada na bagunça que se tornou o povoado, até então pacato, demorando muito tempo para superar o ocorrido:
“Durante anos não conseguimos falar de outra coisa. Nossa conduta diária, dominada até então por tantos hábitos lineares começara a girar, de repente em torno de uma mesma ansiedade comum” (p.127).
A medida que a história avança surgem também várias versões insatisfatórias sobre o verdadeiro motivo que levara a morte prematura de Santiago. São essas versões que vão sendo montadas como num quebra-cabeça. Mais uma vez o caráter jornalístico-poético dá uma leveza ao texto deixando-o interessante, ao mesmo tempo o leitor mergulha profundamente dentro da história revelando toda a poesia e beleza que o autor sabia imprimir nos seus manuscritos. Mesmo com o prenúncio do que se sucederá, nas páginas seguintes ele consegue nos envolver, prendendo a nossa atenção numa trama muito bem desenhada nos melhores moldes Gabriel García Márquez.
Apresentando o meu ponto de vista, “Crônica de uma morte anunciada” nos encanta pela linguagem simples, porém poética e apesar de narrar uma tragédia, o estilo jornalístico aliado a poesia não nos mostra um ambiente fúnebre, pelo contrário, vários momentos descontraídos são apresentados no decorrer da história e por esse motivo, o autor nos leva a acreditar que as coisas só aconteceram por conta da inocência dos moradores do povoado que pensaram que aquilo não fosse acontecer, julgavam conhecer a índole dos gêmeos. e mais uma vez, o escritor consegue falar da condição humana, principalmente do sentimento de solidão, tão presente em outros dos seus títulos, nesse caso, no momento que o narrador descreve a morte de Santiago Nasar o narrador afirma "A fatalidade nos faz invisíveis”. Finalizando, trata-se de uma leitura muito tranquila, gostosa e envolvente, reiterando o extraordinário talento que Gabriel García Márquez tinha para escrever, nos relembrando o motivo dele ter sido consagrado como um dos melhores escritores contemporâneos.
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