[Resenha] Vozes anoitecidas – Mia Couto

Capa do Livro - Editora: Companhia das Letras
 ...esperar não é a mesma coisa que ficar à espera. (Conto “A menina do futuro torcido”, p. 130.).

Sou muito suspeito para falar das obras do Mia Couto. Sou fã da maneira como ele escreve, da leveza, da criatividade, pra mim, é um dos melhores escritores da atualidade. No livro “Vozes anoitecidas”, nada é diferente do que foi citado, o autor imprimi a sua personalidade em cada conto escrito. É difícil fazer resenhas sobre coletâneas de contos, poemas e etc., pelo simples fato de não apresentarmos aqui uma análise conto a conto e sim uma percepção nossa após a leitura do livro. Então vamos lá.

“Vozes anoitecidas” é uma obra muito agradável. Dividida em doze contos, nos quais, Mia Couto consegue misturar poesia e prosa e nos apresenta textos muito bem elaborados. Outra coisa marcante, é a mistura de realidade e ficção, registros orais e escritos, abordando também um pouco da cultura moçambicana, principalmente os seus mitos, isso torna a obra incrível. Dito isso, reitero, que poucos autores conseguem juntar tais coisas de maneira tão singular. 

Minha vida não é um caminho. É uma pedra fechada à espera de ser areia. Vou entrando nos grãos do chão, devagarinho. Quando me quiserem enterrar já eu serei terra. Já que não tive vantagem na vida, esse será o privilégio da minha morte. (Conto “Afinal, Carlota Gentina não chegou a voar?”, p. 84.).

Merece também destaque nessa nossa pequena análise, a sutileza do autor ao trabalhar questões mórbidas, como a morte e a solidão humana. Todos os personagens mostrados sempre querem alcançar algo ou resolver algum problema. 

...Neste deserto solitário, a morte é um simples deslizar, um recolher de asas. Não é um rasgão violento como nos lugares onde a vida brilha. (Conto “A Fogueira”, p. 24.).

Por fim, é um livro legal, muito fácil de ser lido, os contos são envolventes e traz a genialidade do Mia Couto à tona mais uma vez. Preciso salientar que esse, na minha opinião, não é a melhor obra do autor, mas, mesmo assim vale a pena passar a tarde em sua companhia.

Sobre o autor:

Creditos da foto: FRANCOIS GUILLOT
António Emílio Leite Couto mais conhecido como Mia Couto, nasceu em 5 de julho de 1955, na cidade de Beira, Moçambique- África. É biólogo e escritor premiado. Considerado um dos autores mais influentes de Moçambique é também o escritor moçambicano mais traduzido para outras línguas. Dentre as suas obras podemos destacar “Terra Sonâmbula” (1992), “As mulheres de cinza” (2015), “O fio das missangas” (2004) entre outros. Possui diversos prêmios, dentre eles, o Prêmio Neustadt, uma espécie de Nobel americano; só a título de curiosidade, os únicos autores da língua portuguesa a conseguir tão honraria foi, Mia Couto e João Cabral de Melo Neto.

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