[Resenha] Eles: contos – Vagner Amaro
Capa do livro - Bruno Pimentel Francisco - Editora Malê |
Livro bem atual, lançado há pouco tempo, e nele, uma reunião de contos que aborda os temas mais diversos da nossa sociedade, convidando o leitor à reflexão sobre muitas questões. “Eles: contos” é o livro de estreia de Vagner Amaro como autor, acredito que tenha sido um início muito bom. Na obra, ele apresenta contos curtos, fortes, em uma linguagem muito clara. Gostei muito da maneira direta com a qual escreve o Vagner Amaro, sem arrodeio e muito coerente em tudo que expõe.
Falando sobre os contos, gostaria de destacar algumas características as quais me chamaram a atenção; por exemplo, em “O perfume de Olavo”, adorei a maneira com que o autor brincou com os cheiros e como eles conseguem ativar a nossa memória olfativa... “..., o cheiro do bolo tomava conta do ambiente”, “...O cheiro de cerveja, sangue, mijo, bafo e suor tomava conta”; duas cenas completamente diferentes mas, que desenham em nossa mente os espaços em que as cenas acontecem. Na primeira temos um lugar leve, tranquilo, que poderia nos remeter a infância, e na outra, um ambiente hostil, pesado, que denota sofrimento e dor. Utilizar-se desses aromas, propicia uma experiência sensorial, que eleva e torna a leitura mais atraente, já que nos sentimos dentro da cena.
Outra coisa interessante, e que revela uma outra face do autor, agora um lado mais sombrio, exemplo, o conto “Dança”; o tom de denúncia que o conto assume logo em seu início é admirável;
Ao vê-lo, indo em direção ao caixa, a atendente fechou de forma brusca a gaveta que ficava o dinheiro e fixou um olhar que ele já conhecia bem, era uma sequência de medo, desejo e constrangimento." (p. 31).Com esse trecho, percebemos a denúncia aberta e direta sobre o racismo velado, sofrido diariamente pela população negra no Brasil.
Ademais, podemos encontrar também a crítica aberta à masculinidade tóxica, destrutiva, que corrompe, que transforma os homens em animais, na tentativa frustrada de se mostrarem dominantes, pra mim o conto “Ereto” deixou isso tudo muito evidente. Esse ponto merece destaque pela simples coragem e sutileza ao tratar do tema, ele não aparece de forma agressiva, vai invadindo a escrita, e só depois de acabada a leitura e que percebemos do que de fato foi tratado no conto. Achei isso genial. A religiosidade afro-brasileira também aparece no livro, não de forma recorrente, mas como uma maneira de demarcar o território negro, ao qual o autor pertence, e reafirmar as suas raízes africanas.
Por fim, são contos interessantes e muito bem escritos, e que pela diversidade dos assuntos tratados, conseguiríamos fazer resenhas individuais sobre cada um deles. São personagens do nosso dia a dia, em cenas cotidianas, em temas polêmicos, algumas vezes pouco debatidos, mas que com a ajuda da literatura, Vagner Amaro consegue abordar esses temas, e de maneira muito leve ampliar o debate sobre eles.
Sobre o autor:
Vagner Amaro Foto Reprodução: Instagram do autor |
Graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, também é jornalista, formado pela Universidade Estácio de Sá e editor. Mestre em biblioteconomia pela Unirio, tem atuado como mediador e produção de eventos. Em 2015 criou a Editora Malê, editora voltada às publicações escritas de autores afro-brasileiros e africanos. Em sua trajetória como editor, organizou vários livros dentre eles, “África: novas leituras” (2012); “Lima Barreto por jovens autores” (2014), e mais atualmente “Do Índico ao Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos (2018).
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