[Resenha] O que é lugar de fala? - Djamila Ribeiro

Capa do Livro - Coleção: Femininos Plurais
Editora Letramento
Em seu livro “O que é lugar de fala?” a autora Djamila Ribeiro expõe de forma muito didática o conceito de “lugar de fala” a fim de esclarecer tal conceito que hoje é muito utilizado por grupos sociais que historicamente sempre foram silenciados. O texto abre a coleção de livros intitulado “Feminismos Plurais” que tem como coordenadora a própria Djamila Ribeiro. Essa coleção tem como objetivo principal apresentar ao público diversos temas, democratizando o debate acerca desses por meio de textos claros e objetivos.

Pegando como gancho essa última afirmação, começaremos os destaques pela linguagem presente no livro. A autora de “O que é lugar de fala?”, munida de muito conhecimento, oferece aos seus leitores uma leitura muito fácil e fluída. Mesmo se tratando de um texto acadêmico, a linguagem utilizada por ela é, de modo geral, compreensível a todos, estando ou não inseridos no meio acadêmico, proporcionando uma leitura rápida das suas 113 páginas. Acredito que essa facilidade proporcionada pelo texto seja proposital, ocasionando uma ampla divulgação do livro e uma estratégia para alcançar os mais diversos públicos.

Continuando, a base que constitui o texto parte do Feminismo Negro, tema esse que está intimamente ligado à autora, reafirmando o seu compromisso na luta contra a opressão sofridas pelas mulheres negras durante muito tempo. Para tal, ela utiliza como aporte teórico grandes estudiosas negras, justificando assim o seu ponto de vista. Essa retomada histórica é feita na primeira parte do livro, e em seguida ela introduz o conceito de “lugar de fala”. Interessante também observar que no decorrer do texto, a autora traz dados de institutos de pesquisas renomados, revelando as estáticas, grande maioria desfavorável, das condições de vida da população negra no Brasil, afirmando que essa invisibilidade, por conta da negação diária do racismo, contribui para que tais estáticas se mostrem tão cruéis.

A reflexão fundamental a ser feita é perceber que, quando pessoas negras estão reivindicando o direito a ter voz, elas estão reivindicando à própria vida. (p. 45).

Pensando nisso, essa reivindicação de direitos e de espaços que sempre nos foram negados, não parte das experiências pessoais de cada um e sim da junção de todos esses discursos, não como forma de diminuir a luta deste ou daquele grupo social e sim como forma de se fazer ouvir, se igualando às vozes privilegiadas pelas posições que sempre tiveram.

Quando falamos de direito à existência digna, à voz, estamos falando de locus social, de como esse lugar imposto dificulta a possibilidade de transcendência. Absolutamente não te a ver com uma visão essencialista de que somente o negro pode falar sobre racismo, por exemplo. (p. 66).

Assim, o livro “O que é lugar de fala?” traz uma reflexão profunda, principalmente se pensarmos na diversidade social existente e nas contribuições que essas podem oferecer ao coletivo. Aceitar tal realidade contribui para assegurar que os grupos que estiveram a margem sejam ouvidos, visando uma sociedade mais justa e igualitária para todos, nesse sentido, o texto se torna inovador pela coerência contida em suas páginas. Por fim, temos aqui um livro coerente e muito valoroso, que vale a pena perder umas horinhas do seu dia para uma boa leitura.

O grupo que sempre teve o poder, numa inversão lógica e falsa simétrica causada pelo medo de não ser único, incomoda-se com os levantes de vozes. Entretanto, mesmo com essas rachaduras, torna-se essencial o prosseguimento do debate estrutural, uma vez que uma coisa não aula a outra, definitivamente. (p. 89).
Sobre a autora:



Foto: Arquivo Pessoal da autora, retirada da internet

Djamila Taís Ribeiro dos Santos, nasceu na cidade de Santos – SP em 01 de agosto de 1980. Mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Acadêmica brasileira, filosofa, feminista e ativista, vem fazendo um forte debate público com atuação nas redes sociais, abordando também a urgência em se quebrar os silêncios instituídos nos mais diversos espaços, atuando sempre em favor da população negra e da minorias marginalizadas. Tem dois livros best sellers publicados “O que é lugar de fala?” (2017) e “Quem tem medo do Feminismo negro? (2018).

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